quinta-feira, 17 de março de 2011

LER OU NÃO LER: EIS A QUESTÃO


            Ao parafrasear Shakespeare e seu conflituoso personagem Hamlet, não se está propondo a possibilidade de uma escolha, mas confrontando duas ações que definirão qualitativamente, ou não – agora sem parafrasear Caetano – o futuro de quem escolhe ler, ou não ler.
            Entretanto, como essa escolha, muitas vezes, ocorre de cima para baixo, a leitura, ao invés de ser um prazer, passa a ser uma perigosa obrigação. E confundir ato com hábito de ler é o primeiro passo para fazer do conhecimento uma robotização, transformar curiosidade e descoberta em imposição maçante, que vai gradativamente construindo um não-leitor.
Mas fugir dessa possibilidade nefasta, num mundo dominado pelo apelo visual, pela instantaneidade da imagem, é uma tarefa que não começa, apenas continua na escola. Antes disso, há um fator determinante na construção efetiva de um leitor proficiente: os pais. Poder-se-ia afirmar que depende deles a resposta para nosso adaptado questionamento shakespeariano, pois seu papel nessa descoberta, nesse prazer de ler, será determinante para o despertar de um futuro leitor.
  Esse papel de incentivar nos filhos a busca de  um mundo fora de seu espaço habitual é inerente a todo pai ou mãe preocupados com o futuro de suas crianças. Porém, a função desse primeiro e fundamental educador deve ser permeada por aquela máxima de nossos avós: - “mais importante que falar é fazer”. Assim, esse processo de formação do leitor será bem maior, se  os filhos formatarem nos pais a imagem de um efetivo leitor.
É claro que esse processo, que deve necessariamente iniciar na infância, pode ser definido e qualificado de diversas maneiras. E certamente não faltam artigos indicando fontes sobre o que realmente é importante ler. Mas o mais importante, sem desconsiderar a qualidade do que se lê, é ler. O economista Gustavo Ioschpe, em recente entrevista para uma revista de circulação nacional, afirma que alunos que leem muito – livros, revista, jornais – têm melhor desempenho.
Assim, responder a esse questionamento dualístico sobre a importância de ler, pode ser o primeiro passo para o conhecimento de um surpreendente prazer: a descoberta de você leitor!       
                                                                                                                                    Prof. Paulo Cervi

quarta-feira, 16 de março de 2011

PARA ONDE FOI O NOSSO CENTAURO NO JARDIM

                                                      
            - Scliar, o que é preciso fazer para saber escrever?
            - Fundamentalmente escrever.
            A enganosa obviedade da resposta, dada a um vestibulando numa palestra sobre redação, define a visão objetiva de um ficcionista que tão bem soube conduzir a subjetividade da recriação da realidade em seus inúmeros contos e romances. E foi assim, escrevendo, que aquele  menino, filho de uma família judia que emigrou da Rússia, no início do século XX, começou sua história de ficcionista, fusionando literatura e realidade no livro “Histórias de médico em formação”, obra publicada em 1962 e que relata suas experiências pessoais como estudante de medicina. Desde então, passou a conduzir seus leitores por um mundo fantástico, onde as palavras passam a ter múltiplos significados e, assim, nesse Ciclo das Águas, enfrentamos uma Guerra no Bom Fim,  mas sempre sabendo que jamais seríamos o Exército de um homem só, porque, afinal, Scliar sempre tinha Histórias para (quase) todos os gostos e, ao final, sempre teríamos nossa Festa no Castelo. E é exatamente essa magia que nos leva a fugir desse Mês de cães danados, a buscar nas  Memórias de um aprendiz de escritor a mensagem que fica do homem que se foi:  Agora não mais importa o que fizeram de ti .E sim, o que tu vais fazer com o que fizeram de ti...”
            Moacyr Scliar foi certamente um ficcionista que ajudou a construir muito daquilo que sou e, certamente, é responsável por muito daquilo que você é, leitor. Ele, como afirmava o filósofo francês Georges Gusdorf, utilizou a linguagem para nos fornecer a senha de entrada no mundo humano. Entender essa magia, ajuda a dirimir a dor pela ausência  do nosso Centauro no Jardim.
                                                                                                         Prof. Paulo Cervi

A METALINGUAGEM DA PRODUÇÃO TEXTUAL

O texto na cabeça, as ideias em processo de fermentação, mas parece que falta alguma coisa que não exatamente transpiração, afinal sua-se muito para escrever. Mas não é também apenas um processo de inspiração. Produzir um texto escrito é associar a um conjunto de normas pragmáticas outro processo de conhecimento que se adquire com a vivência. Temos assim a soma da racionalidade técnica com a emocionalidade crítica de nossa bagagem cultural. Muitas vezes, quando questionado por alunos de redação sobre qual a melhor fórmula para se produzir um texto, respondo que é o método TB – trovar bem – e que essa “trova” é o resultado de um adequado e necessário planejamento, aliado ao somatório de informações que vem se consolidando – ou não – ao longo de nossa formação pessoal, escolar e profissional. Quando utilizamos somente um desses processos, pecamos ou pela falta de argumentos, ou pela ausência de organização.
Costumo brincar com meus alunos que a redação não deveria ser motivo de tanta preocupação, afinal não passa de um “bilhetão” de vinte e poucas linhas, que necessita apenas de uma apresentação, um desenvolvimento e uma finalização. Mas a naturalidade dessa afirmação esbarra não exatamente na incapacidade de produção, mas na ausência do segundo processo: a quantidade e qualidade de informação. Grandes autores também se deparam com essa dificuldade e algumas vezes até fazem poesia disso: como não se lembrar de Drummond e de sua hora gasta pensando num verso que a pena não quer escrever. Assim o Carlos da poesia não é diferente do Pedro e do João da redação, e muitas vezes entre a primeira e a última dessas vinte míseras linhas forma-se um abismo de difícil transposição.
O auxílio de professores e o uso de material didático diminuem tecnicamente essa dificuldade, mas será insuficiente se for inativa a capacidade de apreensão e compreensão do mundo que nos cerca. O ato da escrita é também um processo de desnudamento do eu, de defesa de uma ideia que será motivo de apreciação pelo outro. Antes de expressar o que se pensa, está a preocupação com o que o corretor irá avaliar desse saber. E isso, obviamente, intimida, dificulta e, não raro, bloqueia a capacidade de produção.  Certamente muitos leitores vão se lembrar de cenas engraçadas que vivenciaram ou presenciaram na fase escolar, quando, ao entregar um trabalho escrito, proposto em aula e sob a supervisão do  professor, o aluno o coloca abaixo dos outros já entregues, certamente por já antecipar a fragilidade de seu texto. Essa falta de confiança não é exatamente ausência de informações, mas fundamentalmente insegurança na sua capacidade de realização de um trabalho escrito.
Certamente não há fórmulas mágicas que permitam capacitar um aluno a escrever. A  singularidade desse processo deve fazer do professor, mais do que um corretor, um orientador. Assim, tão importante quanto como, é o que escrever. Cabe a esse orientador incutir no aluno a capacitação de discernir e filtrar informações que sustentem seu posicionamento na execução do trabalho escrito. Dessa forma torna-se possível argumentar, por exemplo, sobre a improbidade dos serviços públicos na concessão de controladores de velocidade, sem se deixar contaminar pelas cores partidárias, ou  entender que a discutível qualidade da maioria dos programas televisivos é necessariamente compreender que isso é reflexo da capacidade de compreensão de parte considerável dos espectadores. Escrever, portanto, pode deixar de ser uma tarefa penosa e não precisa ser ufanisticamente algo que demande imenso prazer. Deve, isto sim, ter a inconfundível percepção, não do mundo que querem lhe mostrar, mas da realidade que entende e consegue explicar.
                                                Prof. Paulo Cervi

UM SONHO RETOMADO

                                                                                                              * Maria Lorena Morgental Cervi
                Voltar ao passado e recordar minha infância é também retomar um sonho que nasceu lá pelos anos 36, 37 do século passado. Eu morava em Vale Veronês, pequena e saudosa localidade, incrustada entre morros,  naquela época, na divisa entre Santa Maria e Cachoeira do Sul, hoje entre  Silveira Martins e Faxinal do Soturno.
                Como em todo lugar pequeno, a vida era pacata e comunidade se desenvolvia ao redor da igreja e da escola. Já no advento da luz elétrica, do rádio, do telefone e do carro a motor, nossas conduções ainda eram o cavalo, a carreta de bois e a charmosa aranha, uma espécie de carruagem de duas rodas, que era muito utilizada como veículo de transporte para as noivas. As pessoas da comunidade dividiam seu tempo entre trabalho, oração e lazer. Assim, passava-se a semana na roça e, aos domingos, depois da ida à Capela da Nossa Senhora do Monte Bérico – hoje elevada a Santuário pelo saudoso D. Ivo,  e reestilizada pela mão competente de Juan Amoretti -  os homens se reuniam  na casa de comércio dos tios Zamberlam, para jogos de bocha, futebol,  carteado e a inconfundível gritaria, que muitas vezes até parecia briga, do jogo da Mora. Já nos encontros entre famílias – o saudoso filó – renovavam-se as energias e retomavam-se os laços de amizade, sempre acompanhados por um bom vinho e gostosos quitutes como os grôstolis.
Neste clima nasceu meu sonho. Meus irmãos maiores, como era comum a todos os homens da comunidade,  iam cedo para a lavoura. Minha mãe preparava o café da manhã – o  colacion – que era levado por mim e por minha irmã, Juliva, as duas menores da família.  E foi assim, no cansaço de carregar marmita com a primeira refeição da manhã, que nos meus sete  a oito anos passei a idealizar um sonho. Eu me imaginava dirigindo um carrinho um pouco maior que eu, que andasse sem ser puxado por cavalo, que subisse a estrada comigo, evitando que eu me cansasse. Tamanha era a sensação de posse, que tenho ainda hoje a nítida imagem do carrinho, rodando pela estrada da roça.  Hoje percebo que meu sonho, no desabrochar da minha infância viçosa, renova-se em outras formas,  pois  agora ele me ajuda a vencer as distâncias, os cansaços, e os limites que o declínio da vida oferece.
                                                                                                                              * Artista Plástica

terça-feira, 1 de março de 2011

PARA QUE LER?

              Não há novidade alguma em dizer que a leitura é fundamental por ser um canal de ampliação da nossa visão do mundo.  Mas a verdade é que poucos se interessam por isso. Você já percebeu e se questionou por quê? Será porque o mundo,  os outros não nos comovem ,  pois antes  nos  importamos   cada vez mais com nós  mesmos, num individualismo medíocre e paralisante ?
            Aí está o grande papel da leitura: instrumento de reumanização e de desenvolvimento pelo processo de garantia da cidadania. Através do consumo de jornais, revistas informativas, livros especializados e inclusive da internet  para quem  sabe utilizá-la ( sabe selecionar as informações em meio ao emaranhado de textos avulsos e , muitas vezes,  sem maior fundamento),  podemos nos inteirar sobre os mais variados assuntos e acontecimentos, o que  contribui   para a nossa constante  atualização e comunicação.  Temos,  com auxílio da  leitura, a oportunidade  de  saber não só sobre os nossos deveres, mas também sobre os  nossos direitos  e os meios pelos quais podemos defendê-los. Trata-se, assim, de uma  excelente forma de inclusão social ,  forma consciente de opção de vida, de proteção diante da mídia, dos discursos e  das promessas fáceis.
             ainda  algo a ressaltar : caso   formos além da leitura meramente informativa e nos debruçarmos sobre a filosofia e,  acima de tudo, sobre a literatura, através de textos atemporais e universais, como os de  Machado de Assis , Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Clarice Lispector,  entre tantos brasileiros geniais, compreenderemos  melhor a sociedade e o homem em toda a sua complexidade: em sua força e fragilidade, em seu bem e mal, na dualidade comum a toda pessoa.  Em última instância,  lendo bons  livros podemos perceber a relatividade das coisas, a efemeridade da vida e muito mais, podemos  nos tornar mais tolerantes, menos preconceituosos, mais humildes diante de nossos limites, mais autocríticos, enfim, mais humanos.
          Bem, se tudo o que foi dito não for  suficiente para responder à pergunta do título, vamos então a uma justificativa pragmática : o hábito da leitura crítica é imprescindível para o bom desempenho nas provas não apenas de Português, Literatura e Redação, mas para as de História, Geografia, Filosofia e todas as outras que exigem  o entendimento , a interpretação inclusive de um problema de Matemática.  Os Vestibulares e Concursos atuais enfatizam a importância do texto, do contexto, da leitura e interpretação , ou seja, o poder de relação com as questões mundanas e cotidianas,   a habilidade de inferência e dedução, como prega o ENEM.
           Por fim, não sei sobre você, caro leitor; mas garanto que eu não estaria aqui  escrevendo, trocando ideias sobre leitura, se não fosse pelo hábito, pelo prazer incomensurável de ler.
                                                                         Carla Mano

VOLTA ÀS AULAS COM EFICIÊNCIA

           A volta às aulas  costuma gerar nos alunos  sentimentos antagônicos :  desejo de começar  logo , pois há curiosidade com relação aos  professores e colegas, vontade de reencontrar os amigos; porém,  ocorre também  ansiedade  diante  do recomeço e, assim, tensão perante os desafios a serem superados.

          De fato, existem diversas “provas” a serem vencidas. A tendência  é haver a cada ano uma exigência maior, já que os conteúdos  tendem a ser  progressivamente mais complexos. Quando então se avança para o Ensino Médio,  apresenta-se ainda outra grande questão : o Vestibular Seriado,  uma excelente oportunidade para se valorizar o estudo e o esforço em cada um dos três anos escolares.
         Nesse contexto de expectativas, sentimentos variados, cobranças inevitáveis e pressões, algo é certo: a maior parte dos alunos necessita de boa orientação ,  muita disciplina e trabalho para obter sucesso.  Assim, algumas questões são fundamentais:
        - Apoio, incentivo familiar e , se for o caso, até  profissional, a fim de que o jovem tenha certeza do próprio poder de aprendizado e realização. Quem desconhece a importância da autoestima?
        -Organização : no local de estudo,    bem iluminado, com escrivaninha e cadeira que favoreça à adequada postura,  o material deve estar sempre  arrumado – cadernos,  livros, dicionários,  tudo ao  alcance.  Além disso, é importantíssima a administração  do tempo, ou seja, uma programação dos horários das principais atividades semanais , a qual deve ser fixada num lugar visível.   Estipular, em média, quatro horas de estudo diário . Deve haver na semana , no mínimo, duas horas para cada matéria – uma hora para revisar o conteúdo , e outra hora para fazer exercícios .
         -Disciplina:  o cumprimento do que foi programado é indispensável, inclusive o horário para dormir e acordar  . A maioria precisa de oito horas noturnas de sono, logo,  deve-se deitar em torno das 21 horas. É sabido que o bom sono é instrumento  para a  concretização do aprendizado, conforme contribuições valiosas da neurociência.  Do mesmo modo,  a prática de exercícios  físicos  contribuem para a melhoria substancial da memória e da saúde do cérebro, logo, para a eficácia dos estudos. Não se pode esquecer igualmente do momento  do lazer, no fim de semana, para o convívio com os amigos,  para relaxar e desopilar.
         Essas questões,  com o acompanhamento da família e a crença em que tudo é possível com fé e esforço,  certamente trarão resultados positivos. A todos os estudantes, uma ótima volta às aulas.
                                                                       Carla Mano