Uma das maiores "
invenções" da humanidade, sem
dúvida, foi a escrita, que surgiu da necessidade de registrar fatos,
descobertas, emoções e modos de ver o mundo. A linguagem escrita é tão significativa que constitui a
linha divisória entre a pré-história e a história, um índice do desenvolvimento do homem. No
final do século XVIII, a Revolução
Industrial e seus avanços tecnológicos inauguraram a produção de massa
simultaneamente à emergência do operariado que, de um modo ou de outro,
intensificou a questão da reificação, segundo Karl Marx, ou seja, a
coisificação do ser, a valorização do homem pelo que ele produz , rende, e não
pelo que de fato ele é. Nesse caso, atendendo às exigências de
melhorias, no final do século XIX, é instaurada a escolaridade obrigatória (
pelo menos na teoria) e, assim, a aquisição da leitura e escrita passa a ser
instrumento de saber, ao contrário do analfabetismo, sinônimo de fracasso do
indivíduo como ser social. Afinal, é pela escolaridade, a priori, que a pessoa
pode vir a " ser alguém", ter acesso à cultura e ao poder.
Isso tudo porque escrever é
refletir, entender e descobrir. Trata-se de uma fantástica atividade cerebral e
motora: escrever é pensar num assunto,
selecionar as ideias de acordo com o objetivo, transpô-las para o texto com
coerência e, por fim, "reescrever", sim, reescrever, pois nenhum
texto nasce pronto. Sem procurar ser um escritor profissional, os vestibulandos
devem saber bem disso ou qualquer um a que seja determinada tal tarefa.
Escrever é , portanto, uma espécie de desafio, um enfrentamento da página em
branco e uma aceitação da aventura de preenchê-la, de produzir um todo
comunicativo - um texto - para nos aproximar de alguém, de você, caro leitor. Pode-se, com isso,
relacionar paradoxalmente a escrita com um ato de isolamento que busca a
aproximação entre os seres.
Hoje, diante desta nova revolução
tecnológica, do frenesi hipertextual da internet, com seus múltiplos e
incessantes estímulos, saltamos textos e imagens e interagimos numa velocidade
incrível. Em todo este aparato tecnológico, a escrita encontra um novo nicho,
uma nova forma de manifestar-se: com a internet, e-mails, blogs, orkut,
twitter, facebook, e toda espécie de ambientes virtuais, as pessoas estão
"postando" suas mensagens. Apesar disso, são evidentes os perigos:
fragmentação, superficialidade, absoluta falta de consenso ou centro, já que na
internet circulam informações como numa grande periferia, onde facilmente seus
navegadores se perdem. Segundo Nicholas
Carr, autor do provocativo livro - The Shallows: what the internet is doing
with our brains - as novas tecnologias vêm provocando danos a partes do
cérebro, relacionadas à inteligência, além de nos tornar menos sensíveis a
sentimentos como compaixão e piedade. Ele critica a leitura apressada, rasa e
distraída e o aprendizado superficial, e diz que essa dispersão da atenção vem
à custa da capacidade de concentração e de reflexão. Paralelamente, Anne Mangen, da Universidade
de Stavangers, na Noruega, alerta para a diferença entre teclar e escrever,
postulando: "Quando escrevemos com a caneta, os movimentos feitos deixam
uma memória motora na região sensorio-motora do cérebro, que nos ajuda a
reconhecer as letras e os sentidos. Isso implica uma conexão entre leitura e
escrita, e sugere que o sistema sensorial-motor exerce um grande papel no
processo de reconhecimento visual durante a leitura".
É.... a internet , como tudo, tem dois
lados, de modo que precisamos conhecê-los para
o melhor aproveitamento. Cada um, de acordo com sua consciência e
sabedoria deve saber o limite e acima de tudo não ficar apenas diante dos
notebooks, celulares, smartphones, ipads... e realmente procurar diminuir as
distâncias com um toque no ombro do conhecido, um abraço no amigo real.
A escrita tem este poder mágico de
registrar e perpetuar nosso pensamento e desejo: o de sermos mais humanos, felizes.
Carla Mano - Profª. de Português e Redação do Mano a Mano Cursos
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